quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Capivara Jorge

 


   Hoje vou postar uma pequena parte de um projeto um pouco mais ambicioso que eu tenho a algum tempo. É a história do Jorge, uma capivara. Isso mesmo. Levemente inspirado neste caso aqui. Melhor que tentar explicar é deixar vocês lerem:


Prólogo

      Uma ventania trazia as ondas ao seu encontro. A brisa salgada do mar lavava suas lágrimas, estas, que pensava já estarem adormecidas depois de tanto tempo sem aflorarem em seus olhos. Diferente de outras vezes, ele as deixou rolarem por seu rosto, já não havia motivo para escondê-las. Sentia como se a areia já penetrasse em sua carne depois de tanto tempo parado ali, apenas a observar a imensidão do mar. Seria esse seu único caminho? Uma vez ou outra passava um barco distante em que se imaginava indo embora e deixando tudo para trás, mas grande seria seu engano se achasse que conseguiria deixar tudo que aconteceu pra trás.
     O assovio do vento ao se chocar com as pedras costeiras era a trilha sonora de suas memórias, que passavam apenas como flashes borrados em sua mente, não tinha mais certeza do que era real ou não, tudo parecia tão estranho, como se outro estive em seu lugar e ele apenas contemplasse os fatos. A única coisa que sentia ser concreta eram as palavras escritas no papel que ainda guardava junto a si, nada lhe doía mais o peito do que lê-las e relê-las e mesmo assim se agarrava a elas como sendo uma âncora para a realidade, pois a dor era real.
     O lusco fusco havia chegado para lembrar-lhe de tempos de outrora, que em outra circunstância poderia ter feito aparecer um sorriso tímido em seus lábios, mas que ali apenas acentuavam sua perda de fé, de que nada mais seria como antes. Neste momento lembrou-se da primeira vez que a havia visto: grandes olhos castanhos, brilhantes, um sorriso contagiante, sincero, nada de mal existia ali, nada de mal...
     Seus passos o haviam levado cada vez mais pra dentro do mar sem ele perceber, agora as ondas quebravam acima dos seus joelhos e salpicavam seu rosto, confundindo-se com suas lágrimas. A noite foi chegando sem ser convidada e trouxe consigo o brilho de algumas estrelas. Havia muito tempo não olhava para o céu estrelado, então depois de contemplar as poucas estrelas já dispostas no céu, como se algum artista ainda preparasse a tela para uma grande pintura, fechou os olhos para se assegurar que havia registrado bem aquela imagem em sua mente, poderia ser a última vez que o fazia. Naquele momento algo estranho aconteceu.
    Antes mesmo de abrir os olhos já havia percebido um clarão descomunal e ao abri-los foi como ver uma das estrelas que acabará de olhar cair em sua direção. Sentiu seu corpo ser jogado pra trás e cair de costas no mar. No meio do susto engoliu um pouco e água e com sua cabeça imergida não conseguiu distinguir o que acontecia na superfície. Ouviu um grito, algo se aproximava, de repente sentiu um puxão e foi tirado de baixo d’água, conseguia ver apenas a silhueta da criatura contra a luz, quando as palavras ecoaram em seus ouvidos:

-                 - Never gonna give you up! Never gonna let you down! Never gonna run around and desert you!

        



Esse foi só um trechinho, só pra dar aquela água na boca etc...




quinta-feira, 1 de outubro de 2015

SAGA


    Saga é a melhor HQ da atualidade. Não sou só eu que penso assim, publicada mensalmente pela Image Comics, já ganhou o Eisner Awards (o Oscar dos quadrinhos norte americanos) de melhor série por três anos seguidos, o mais recente tendo sido entregue na San Diego Comic-Con desse ano.
    Concebida da imaginação do roteirista Brian K. Vaughan (autor de Fugitivos e Y: O Último Homem) e do belíssimo traço de Fiona Staples, Saga, ao melhor estilo Space Opera, conta a história de Alana e Marko, seres de raças alienígenas distintas, que veem seus respectivos planetas em guerra entre si. Eles se apaixonam. Eles tem uma filha. Eles tem que fugir pra poder criar sua filha. A partir daí a história vai se desenrolando de foma incrível, cheia de personagens cativantes e inusitados.
    Influências básicas são Star Wars (espaço, guerra dãã) e Romeu e Julieta (amor impossível entre rivais), mas é tudo tão moderno e atual, como o pano de fundo da guerra entre os planetas, disputas políticas, importância da imprensa/mídia na influência que exerce nas pessoas, trata abertamente questões de preconceito de gênero, consumo de drogas, exploração infantil, etc, sem soar piegas, uma marca registrada nos trabalhos anteriores de Vaughan.
     Um aspecto interessante na narrativa é que apesar dos dois serem o foco principal, outros personagens ganham destaque. A filha recém nascida, Hazel, por vezes assume a narrativa como se estivesse contando memórias de infância ou histórias que ouviu de seus país. O anti-herói "O Querer", caçador de recompensas contratado para seguir o casal, é tão legal que você quer que ele tenha sucesso, embora não queira que os protagonistas sejam pegos. É como se o Boba Fett tirasse o capacete e realmente merecesse todo o hype que tem. Até o animal de estimação dele é legal. Outro personagem que nos surpreende é o Príncipe Robô que começa como apenas um antagonista, mas que vai ganhando destaque, até inesperado. Esses tons de cinza dos personagens levam a comparações de Saga com Game of Thrones, devido a complexidade de seus personagens, não existe bem ou mal, existe pontos de vista diferentes e cada um tentando seguir sua vida. Outro ponto de semelhança com Game of Thrones, é a presença maciça de personagens femininas fortes, partindo de Alana, passando pela babá da Hazel, a Vó de Hazel (mãe do Marko), ex-namorada do Marko, a namorada do Querer, a irmã do Querer, a garotinha resgatada pelo Querer... enfim, cada uma do seu jeito, sem serem hiper-sensualizadas ou masculinizadas, sabe tratadas como qualquer outro ser humano comum (parece até óbvio dizer isso mas infelizmente não é sempre que isso acontece, acredite). Fora o fato de ser uma mulher a desenhista da série, numa indústria amplamente dominada por homens, mas que aos pouquinhos vai se modificando. Por isso Saga é tão importante e vem a cada ano recebendo o merecido reconhecimento.
     Saga teve uma edição encadernada que contempla o primeiro arco da história, das edições 1 à 6 originalmente, publicada no Brasil pela Devir (que só deus sabe quando vai publicar o volume 2).

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